Comissão Global prepara estratégia para melhorar o ar em ambientes fechados

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Ar-condicionado sem manutenção é um dos vilões das doenças respiratórias
Ar-condicionado sem manutenção é um dos vilões das doenças respiratórias

Mais de 170 profissionais de diversas áreas, incluindo medicina, engenharia e física, integram um novo grupo de trabalho internacional que vai desenvolver um Marco de Ação Global para melhorar a qualidade do ar em ambientes fechados, como escritórios e escolas, e assim enfrentar o que, segundo o comitê, constitui uma “crise de saúde pública disseminada”.

A chamada Comissão Global para o Ar Saudável em Ambientes Fechados foi lançada em setembro, durante a Assembleia Geral da ONU em Nova York, em uma conferência com a participação de autoridades, ONGs e especialistas vindos de 30 países. Ao longo dos próximos anos, o grupo pretende auxiliar na criação de políticas específicas para cada país, abrangendo recomendações para áreas como financiamento, políticas públicas e práticas de transformação de mercados.

Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), 8 milhões de pessoas morrem por ano no mundo devido à má qualidade do ar. Metade desses casos é atribuída à poluição em ambientes internos e fechados.

A farmacêutica baiana Nelzair Vianna, pesquisadora da Fiocruz com estudos sobre o impacto sanitário e econômico da má qualidade do ar em ambientes internos, foi uma dos seis integrantes da delegação brasileira no evento. “Os impactos econômicos da poluição (externa e interna) são diversos”, explica Nelzair. “Provoca absenteísmo (faltas), sobrecarrega o sistema de saúde e pode levar à morte, o que também é um problema econômico.”

Ao realizar uma pesquisa sobre a situação em Salvador, em 2017, ela observou que a cidade, então com pouco menos de 3 milhões de habitantes, gastava R$ 19 milhões por ano com doenças causadas pela poluição. Um cálculo proporcional deste custo (já que Salvador, à época, tinha 1,4% da população brasileira), determinaria o gasto do país relativo à má qualidade do ar em quase R$ 1,36 bilhão — embora fatores regionais possam alterar significativamente a situação.

“No mundo, 1,2 bilhão de dias de trabalho são perdidos por ano pelos impactos da poluição do ar na saúde, segundo a OCDE (Organização para a Cooperação e o Desenvolvimento Econômico). O Banco Mundial estima uma perda do PIB global da ordem de US$ 6 trilhões, somando impactos na produtividade e na saúde”, alertou outra representante brasileira no evento, a pesquisadora Beatriz Klimeck, que estuda o tema qualidade do ar na Universidade da Califórnia, em San Diego (EUA).

Weeberb Réquia, coordenador do Centro de Estudos em Meio Ambiente e Saúde Pública da FGV Brasília, afirma que “a exposição a altos níveis de poluentes, com baixa qualidade do ar, pode aumentar em até 23% o risco de internações por doenças do sistema respiratório e circulatório”.

Segundo Leonardo Cozac, presidente da Associação Brasileira de Refrigeração, Ar-Condicionado, Ventilação e Aquecimento (Abrava), há muito pouco debate sobre o ar em ambientes fechados, como casas, escolas, trabalho, hospitais, academias e outros espaços. Mas, segundo dados levantados pela comissão, o ser humano passa pelo menos 90% do tempo nesses locais com menor circulação de ar e altas concentrações de material particulado, gases prejudiciais à saúde e baixa umidade.

“A poluição do ar interno pode ser pior que a externa, pois o ar de fora entra e se acumulam contaminantes internos, como o CO2 da respiração e gases raros como o radônio”, comenta Cozac. “É importante se preocupar com a manutenção periódica do ar-condicionado e lembrar que o aspirador de pó, sem filtro adequado, deixa partículas prejudiciais à saúde suspensas no ar”, adverte Cozac. Ele recomenda a instalação de exaustores, como os que são comuns em banheiros fechados, para dissipar o acúmulo de gases prejudiciais em ambientes com baixa ventilação.

Carlos Carvalho, médico pneumologista do Incor e professor da Faculdade de Medicina da USP, diz que os principais agressores do ar em ambientes internos são a secura, os gases e o material particulado, o maior vilão das doenças respiratórias. “Radônio e partículas de amianto, que causam câncer de pulmão, acontecem especialmente quando ocorre a demolição de prédios, mas os números são baixos”, afirma.

“A secura causada pelo ar-condicionado em ambientes internos também é um problema, uma vez que, nas trocas gasosas no pulmão, o organismo precisa de um ambiente 100% aquoso”, explica o pneumologista. Existem no Brasil 17 milhões de residências com ar-condicionado, segundo a Abrava, mas nem todos os proprietários se preocupam com a devida manutenção.

Fonte: https://economia.uol.com.br/noticias/redacao/2025/11/01/comissao-global-prepara-estrategia-para-melhorar-o-ar-em-ambientes-fechados.htm

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