A presença crescente da inteligência artificial (IA) em diversos aspectos da vida cotidiana e profissional torna essencial que a população esteja preparada para utilizar essas ferramentas de forma eficaz. No Brasil, um fator-chave para essa preparação é o domínio da língua portuguesa. Saber se comunicar com clareza é indispensável para garantir interações produtivas com tecnologias baseadas em IA. No entanto, sem políticas públicas que promovam o desenvolvimento dessas competências, o país corre o risco de aumentar a desigualdade social e se afastar ainda mais do status de nação desenvolvida.
A Relação Entre a Língua Portuguesa e a IA
O uso da IA depende de uma comunicação clara e estruturada. Para que as respostas geradas sejam precisas e úteis, é necessário saber formular perguntas e comandos de forma objetiva. Durante minha experiência como professor, eu dizia: “só faz pergunta quem já sabe a matéria”. Esse princípio se aplica ao uso da IA — a clareza e a capacidade de questionar de forma eficaz são resultados de uma boa compreensão da linguagem.
A realidade educacional do Brasil
O Brasil enfrenta um problema crônico na educação, refletido nas avaliações do Programa Internacional de Avaliação de Estudantes (PISA), onde o país tem ficado abaixo da média em leitura e compreensão. Além disso, é preocupante a existência de milhares, possivelmente milhões, de analfabetos funcionais — pessoas que conseguem ler, mas não entendem plenamente o que leem e têm dificuldades em interpretar informações. Essa realidade é um grande obstáculo para a integração eficiente das tecnologias de IA na sociedade.
O risco de aumentar a desigualdade social
Se o Brasil não desenvolver políticas públicas que incentivem e promovam o domínio da língua portuguesa e outras competências essenciais, corremos o risco de aprofundar o abismo da desigualdade social. As ferramentas de IA têm o potencial de melhorar a produtividade e a qualidade de vida, mas só beneficiarão aqueles que souberem usá-las. Isso pode criar um cenário onde a parcela da população que já tem acesso a uma boa educação se destacará ainda mais, enquanto os que não têm essas competências ficarão para trás.
Sem ações concretas, o Brasil continuará a ser um país em desenvolvimento, incapaz de aproveitar plenamente as inovações tecnológicas para reduzir desigualdades e impulsionar o crescimento econômico. O domínio da linguagem e a alfabetização funcional são essenciais para garantir que todos, independentemente de sua origem ou condição social, possam se beneficiar das oportunidades que a IA oferece.
Soluções Possíveis
Para evitar que a IA amplie a desigualdade, é necessário:
– Fortalecer a Educação Básica: Implementar programas que melhorem a qualidade da leitura, escrita e interpretação de texto nas escolas, assegurando que os jovens desenvolvam uma base sólida de compreensão.
– Treinamentos para Adultos: Criar iniciativas de capacitação para que adultos possam aprender a utilizar as tecnologias de IA de forma eficiente, aprimorando sua comunicação e aumentando suas oportunidades de trabalho.
– Parcerias Público-Privadas: Empresas e governo podem colaborar para oferecer programas de treinamento em larga escala, preparando a força de trabalho para a era digital.
– Iniciativas de Inclusão Digital: Expandir o acesso à internet e a dispositivos tecnológicos para populações de baixa renda, garantindo que mais pessoas possam aprender e aplicar suas habilidades no uso de IA.
O uso eficaz de IA depende do domínio da língua portuguesa e de habilidades de comunicação clara e objetiva. Sem um investimento real em políticas públicas que reconheçam e abordem o problema do analfabetismo funcional, o Brasil não conseguirá integrar sua população às novas realidades tecnológicas, ampliando a desigualdade social e perpetuando seu status de país em desenvolvimento. Como eu sempre dizia em sala de aula, “só faz pergunta quem já sabe a matéria”. Portanto, para que o Brasil avance e se torne uma nação desenvolvida, é preciso garantir que todos possam fazer boas perguntas — e, assim, usar a IA e outras tecnologias em seu máximo potencial.
Jorge Segeti
CEO da Segeti Consultoria | VP do SESCON-SP | Diretor Técnico da Cebrasse – Central Brasileira do Setor de Serviços | Membro da Board Academy