ENTREVISTA “O SETOR DE LIMPEZA É IMPRESCINDÍVEL NO COMBATE À PROPAGAÇÃO DO CORONAVÍRUS”, DIZ RUI MONTEIRO

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Rui Monteiro, presidente do Seac-SP e Membro do Conselho Deliberativo da Cebrasse

Rui Monteiro, presidente do Seac-SP e Membro do Conselho Deliberativo da Cebrasse

Na nossa segunda entrevista sobre como estão se comportando os setores em meio a pandemia do Coronavírus, a Cebrasse News conversou com o presidente do Sindicato de Asseio e Conservação de São Paulo (Seac/SP) Rui Monteiro Marques que explica como o setor de limpeza é um grande aliado no combate a disseminação do coronavírus. “Nós já tínhamos técnicas de limpeza bastante avançadas, mas ainda assim nos aperfeiçoamos”, disse.
O Seac/SP foi bastante elogiado pela agilidade com que a entidade reagiu antes mesmo que qualquer providência oficial ser tomada. Rui explica quais foram as medidas adotadas e como conseguiu se antecipar aos fatos. “Trabalhamos em tempo recorde para que as empresas pudessem ter uma ferramenta e aplicá-la imediatamente nos contratos que já estavam suspensos a partir do dia 23 de Março. Eu tive uma visão baseada no que estava ocorrendo no mundo”, disse.
Ele chamou o sindicato dos trabalhadores que acharam que estavam sendo muito apressados. “Sugeriram que esperássemos um pouco para ver o que iria acontecer. Insisti que naquele momento tínhamos que ser ágeis porque o problema vai chegar devagarzinho, ninguém vai acreditar e logo vai explodir. E foi o que aconteceu. Logo o governador decretou a quarentena que fechou tudo. Nós já tínhamos negociado, antes mesmo de o governo federal editar qualquer norma relativa ao assunto. O que colocamos no nosso acordo foram propostas no sentido de manter o emprego”, disse.
1- Profissionais de limpeza não podem parar no período de pandemia. Quais os cuidados que vocês estão tendo com os profissionais da área?
As áreas essenciais não podem parar. E a limpeza muito menos. Limpeza é saúde, é imprescindível no combate à propagação do coronavírus. Nós orientamos as empresas que afastassem de seus quadros os grupos de risco que seriam as pessoas acima de 60 anos, pessoas com doenças crônicas como diabetes, pressão alta, mulheres gestantes e também menores aprendizes abaixo de 18 anos. Solicitamos às empresas que essas pessoas deveriam ser afastadas do trabalho. Orientamos sobre o uso de todos os aparatos de segurança como máscara, álcool gel frequentemente e mantendo o distanciamento.
2- A atuação de vocês mudou depois dessa pandemia? Adicionaram novas técnicas de limpeza?
Apesar de as empresas já usarem métodos bem avançados, ficamos mais preocupados com as novas técnicas de limpeza. Sabemos que em função dessa pandemia, as superfícies precisam ser limpas com mais frequência, porque não sabemos se as pessoas que estão em trânsito estão ou não infectados. Apesar da orientação das pessoas usarem máscara, sabemos que muitas não usam e as gotículas são expelidas pela boca acabam se fixando nas superfícies, podendo ficar ali por horas, até dias. Então orientamos que se desse prioridade a limpeza das superfícies com mais eficiência e também mais vezes ao dia. Que os intervalos fossem mais curtos para aplicação dos produtos para que os serviços fiquem mais eficientes. Além disso, muitas empresas passaram a usar produtos de limpeza terminal de hospital como o peróxido de hidrogênio para limpezas em superfícies comerciais, principalmente elevadores e outras onde há grande circulação de pessoas. Essa foi a orientação básica e geral, porque é isso que precisa ser feito.
3- Vocês atendem o setor público e privado também. De que forma o setor privado está afetando, com as portas fechadas?
Infelizmente a situação não é muito boa porque muitos contratos, principalmente na área privada, suspenderam os serviços de limpeza em função de terem suas portas fechadas pela pandemia. Então nós estamos estimando que na limpeza aqui em São Paulo, 30% do quadro esteja suspenso.
As empresas estão buscando ferramentas, como acordo coletivo que nós fizemos e através da MP 936 para evitar desemprego e passar por essa fase negociando com o cliente esses custos de redução contratual, de suspensão contratual ou de férias do funcionário. E como eu disse, isso tá atingindo de 30% a 40% do mercado.
4- O setor fez algum acordo com trabalhadores baseado nas medidas provisórias do governo? Fizeram negociação com os sindicatos dos trabalhadores do setor?
Sim. O setor fez acordo logo que o problema começou aparecer aqui em São Paulo, nós nos antecipamos e procuramos o sindicato dos empregados para dizer que estávamos aguardando o pior. E o pior apareceu em menos tempo do que nós imaginávamos.
Nós imaginávamos que a situação de pandemia seria no início de abril, mas no dia 20 de março o governador já decretou aqui a quarentena em São Paulo. Felizmente nós já estávamos com as negociações avançadas com os sindicatos. Nós já estávamos com o nosso acordo assinado, inclusive. Trabalhamos em tempo recorde para que as empresas pudessem ter uma ferramenta e aplicá-la imediatamente nos contratos que já estavam suspensos a partir do dia 23 de Março.
5- O Sindicato das Empresas de Asseio e Conservação de São Paulo foi bastante elogiado pela agilidade com que a entidade reagiu antes mesmo que qualquer providência oficial ser tomada. Como vocês tomaram essas medidas tão rapidamente?
Eu tive uma visão baseada no que estava ocorrendo no mundo, baseado no que já estava ocorrendo na Europa e no que já tinha no histórico. Fiz um cálculo e chamei o sindicato dos empregados que acharam que eu estava sendo muito apressado. Sugeriram que esperássemos um pouco para ver o que iria acontecer. Eu argumentei que o problema vai chegar devagarzinho, ninguém vai acreditar e logo vai explodir. E foi o que aconteceu. Logo o governador decretou a quarentena que fechou tudo. Nós já tínhamos negociado. O que colocamos no nosso acordo foram propostas no sentido de manter o emprego.
Na ocasião eu falei que as empresas não vão querer mandar os funcionários embora, mas precisam ter formas de manter os funcionários nas empresas com o custo mínimo. Elas precisam se adequar às realidades de vários clientes diferentes. Então nós colocamos ali situações de férias, de antecipação de férias e imediatas independente de ter o aviso de férias para o empregado ou não, situações de banco de horas, situações de mudanças de escalas de trabalho, nós colocamos situações de redução da carga horária com redução do salário é de benefício até 50%. Tudo isso nós fizemos antes do governo editar qualquer norma relativa ao assunto. Hoje está fácil depois que o governo fez a MP 936.
Mas nós fizemos tudo isso antes. O governo estava pensando ainda o que ia fazer e nós já tínhamos feito, colocado no papel. Fizemos também licença remunerada transformando os três dias de aviso prévio do funcionário especial em licença remunerada por ano de trabalho. Então o funcionário que tinha 10 anos tem direito a 3 dias de aviso prévio especial. Isso daria 30 dias. Demos como licença remunerada. Temos opções para as empresas de acordo com cada contrato. Mas não colocamos nada em um acordo relativo a rescisão porque o objetivo de toda essa rapidez era manter o emprego do funcionário. Então nós fizemos questão de não colocar nada a respeito de dispensa de funcionários. Mas estamos otimistas querendo que tudo isso passe e que nós consigamos colocar todos os nossos funcionários de volta nos seus postos de trabalho.
6- Qual a sua opinião sobre o período de fechamento do comércio paulista? E a condução do governo do estado sobre isso?
Sobre o fechamento do comércio aqui em São Paulo, acredito que foi um pouco exagerada. No início eu acredito que podíamos ter seguido por caminhos mais interessantes naquele momento que estão sendo seguidos agora. Eu acho que teria que ter se preocupado na época com o grupo de risco e determinar que o grupo de risco fosse afastado do trabalho imediatamente e não fechamento de todo o comércio. Eu acredito que na época se o governador tivesse tomado medidas como fechamento imediato de jogos de futebol, shows e qualquer coisa que tivesse aglomeração de pessoas teria sido mais eficaz. E também deveria ter obrigado todos desde o início a usar máscara. Fecharam tudo, muitos lugares sem necessidade, até porque você tem muito escritório que não tem praticamente movimento de pessoas e não tinha necessidade nenhuma de estarem fechados e outros lugares que tinha movimento de pessoas grande, como transporte público, ninguém se preocupou com máscara e nenhuma prevenção.