Este ano de 2020 com certeza não será esquecido tão facilmente. Em pouco tempo tivemos que aprender a lidar com uma realidade totalmente desconhecida e impensável até o início da pandemia. O nosso vocabulário acabou incluindo palavras que foram integrando rapidamente o nosso dia-dia: “lockdown”, “novo normal”, “resiliência”, “vacinas”, “curva epidemiológica”, “primeira onda”, “segunda onda”, entre outras.
Novos protagonistas tomaram conta da mídia: os virologistas, os epidemiologistas, os anestesistas, os estatísticos, etc. Eles ganharam visibilidade, aparições nas tv e publicaram livros. Tantas coisas são tão conhecidas e tão presentes na nossa vida de agora que parece quase um sonho lembrar das nossas vidas antes do Covid-19.
Os abraços, os jantares fora, os jogos com os amigos, as viagens… De repente, todo um sistema de vida consolidado e normal foi por água abaixo sem que as pessoas tivessem tempo para metabolizar o acontecido. Tudo isso – com poucas diferenças – no mundo todo, em um prazo terrivelmente curto.
Depois de apenas dez meses desde o início da conscientização e de todas as consequências que se determinaram é – por quanto com a máxima prudência – já possível fotografar alguns macro fenômenos e iniciar a pensar a como estes fenômenos possam impactar no setor dos serviços:
Falha total (em alguns lugares mais, outros menos) nos sistemas previsionais e na organização de formas de combate ao vírus com base em planos ante epidêmicos pré-estabelecidos. É opinião comum que muitas mortes poderiam ter sido evitadas simplesmente através de uma correta gestão da emergência nas suas primeiras fases. Neste sentido, os países mais ricos apresentam performances em termos de taxa de mortalidade por número de habitantes que são até piores dos países menos desenvolvidos, com os piques absurdos da Bélgica, dos Estados Unidos, da Grande Bretanha, da Itália. Este é um fato sobre o qual será necessário meditar e intervir com atenção e investimentos focados.
Tendencia generalizada das autoridades a exagerar com providencias de legislação emergencial onde as liberdades constitucionais (de informação, de movimento, de agregação) estão sendo trocadas por “segurança sanitária”. Esta abordagem é bastante comum no mundo todo e alcançou seus piques, paradoxalmente, nas democracias mais consolidadas como a França, a Itália, a Grande Bretanha e a Espanha. O assunto é até quando e até quanto é possível suportar uma perda das liberdades fundamentais em troca de uma hipotética maior segurança sanitária? Os dados – infelizmente – mostram que os países que adotaram as medidas mais fortes de restrição das liberdades foram os que deram as piores performances em termos de mortos por Covid-19, lembramos entre eles a Argentina e o Peru. Este assunto é central e fundamental para repensar o mundo depois da pandemia. Por quanto tempo e até que ponto os cidadãos estão disponíveis a trocar a liberdade para a saúde? E a quais condições? Porque é possível frequentar os shopping centers e os supermercados ao invés de teatros, cinemas e restaurantes? Existe uma efetiva justificativa cientifica a tudo isso ou estamos na frente de uma mudança de paradigma na mesma concepção do que é democracia e do que é liberdade?
O impacto nas economias foi devassador, e como sempre acontece, “em tempos de lágrimas tem quem vende lenços”. Se o restaurante e a pizzaria da esquina estão fechados e nunca irão reabrir, Amazon, Microsoft e as grandes cadeias de supermercados nunca venderam tantos antes. Se algumas atividades de estão serviços próximas a falência depois meses de forçado fechamento, quem vende dispositivos de proteção médico nunca ganhou tanto antes. Como é possível repensar o mundo dos serviços num cenário tão diferente do de antes? Que reação pode ter os empreendedores e como os governos devem e podem ajudar neste novo mundo pós pandêmico?
A quase eliminação das viagens internas e internacionais e o impacto devassante em toda a cadeia produtiva do turismo, incluindo o de negócio, como poderá ser enfrentada? Que tipo de novos serviços e novas propostas poderão surgir? Quanto tempo será necessário para que se volte a uma curva de crescimento adequada? Qual o papel dos países emergentes em tudo isso? Como um país como o Brasil pode aproveitar melhor que outros da retomada?
Os próximos meses – com a tão anunciada chegada das vacinas – serão decisivos para entender o rumo que o mundo vai ter. O Brasil tem tudo para ser protagonista desta nova fase.
Diego D’Ermoggine, representante na Europa da Cebrasse