Presidente do SindiHosp explica variante Ômicron e importância da vacinação

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Fracisco Balestrin, médico e presidente Sindicato dos Hospitais, Clínicas e Laboratórios do Estado de São Paulo (SindiHosp)
Fracisco Balestrin, médico e presidente Sindicato dos Hospitais, Clínicas e Laboratórios do Estado de São Paulo (SindiHosp)

Segundo médico, a imunização seria um ‘colete’ contra o vírus

A variante ômicron se espalhou pelo mundo e está fazendo o número de casos diários de Covid-19 explodir. Identificada pela primeira vez em novembro de 2021, na África do Sul, ela rapidamente se espalhou pelo planeta. No último dia 21, já representava 97% dos casos da doença no Brasil, como apontaram diversas redes de pesquisa.

De acordo com o médico Fracisco Balestrin, presidente Sindicato dos Hospitais, Clínicas e Laboratórios do Estado de São Paulo (SindiHosp), a nova variante é resultado de mais de 50 mutações no vírus original, sendo que 13 delas aconteceram exatamente nas espículas (ou proteína spike), a ‘coroa’ que deu o nome popular da doença e do vírus e que é a chave para entrada nas células.

Em entrevista ao Cebrasse News, o médico explica as diferenças entre a nova variante e as cepas anteriores. Ele também apoia a ampla vacinação da população como forma de combater a maior crise sanitária do século, que tem abalado a economia e alterado a vida em sociedade. Balestrin lembra às empresas que é fundamental a manutenção dos protocolos sanitários: uso de máscaras adequadas, distanciamento social, afastamento de pessoas com sintomas ou suspeita da doença, testagem e fim das aglomerações.

Leia, a seguir, a entrevista:

Cebrasse News – O aumento de casos de Covid-19 demonstram que a doença continua sendo uma ameaça. O senhor poderia explicar essa nova fase?
Francisco Balestrin – Em primeiro lugar, é preciso dizer que essa é uma nova variante. Todo mundo já sabe que ela surgiu de mutações do vírus original e dessas, 13 aconteceram exatamente nas espículas ou spike. Essas proteínas são como as ‘chaves’ de uma casa, abrem as células para o vírus entrar. É bom lembrar que o vírus não têm uma vida autônoma, ele basicamente precisa de uma célula para que possam sobreviver. A questão é que quando eles entram nessas células, elas acabam ficando doentes. Este é o grande problema que existe com o vírus da Covid. No caso das variantes, eles atacam bastante o sistema pulmonar, o que resulta em reações onde as pessoas são infectadas de uma forma muito grave, na qual os pulmões são todos afetados o que acaba resultando em morte.

Cebrasse News – E o que acontece a variante Ômicron?
Francisco Balestrin – Aparentemente, ele tem características bem distintas. A primeira delas é que tem um grau de transmissibilidade e reprodutibilidade muito altos. Então, quando a pessoa é infectada por essa variante, sofre um ataque maciço, por isso há uma chance maior de afetar uma quantidade maior de pessoas. As variantes Delta e Gama, as duas mais letais, tinham um poder de transmissibilidade menor que essa. E o que acontece quando as pessoas estão infectadas com essa variante Ômicron é que elas ficam doentes, porém a competência desse vírus de atacar o sistema respiratório como um todo é menor. Ela fica muito mais concentrada na região oro-laringo-traquial. E ataca pouco os pulmões, porque aquela ‘chave’, da qual falei antes, não está tão adaptada a atacar as células pulmonares. É por isso que as pessoas têm uma sintomatologia menor.

Cebrasse News – Isso significa que elas ficam menos doentes?
Francisco Balestrin – Não. Porque na realidade essa nova variante ataca como se fosse um bloco. É como se você tivesse, de um lado, uma tropa muito bem armada e, do outro lado, uma tropa menos armada, mas em muito maior quantidade. Então, muitas vezes, com esse ataque maciço as pessoas também ficam doentes e algumas terão a doença um pouco mais grave. Por isso que, hoje, o que está acontecendo é que voltamos a ter um número crescente de internações. Seja em unidade normais, seja em unidades de terapia intensiva (as UTIs). A importante diferença é que mesmo as pessoas que vão para a terapia intensiva, só um número muito pequenoprecisará usar a chamada respiração mecânica ou o famoso entubar. E também é muito pequena mortalidade.

Cebrasse News – E qual a importância da vacinação?
Francisco Balestrin – Imagine um policial usando um colete de segurança. Se ele não tiver esse equipamento e levar um tiro no peito, morre. Agora, se ele estiver usando o colete, mesmo que leve o tiro no peito, a bala se parte no colete e o policial não morre. Então, esse é o papel da vacina, proteger as pessoas contra a gravidade da doença. A vacinação é fundamental para esse processo, é como se as pessoas estivessem usando coletes à prova de bala. Só que as vezes o tiro pode acertar o braço. A pessoa é atingida, ela recebe o tiro, só que a gravidade de um tiro no braço compara a de um tiro no coração é muito diferente. Então, a Ômicron é mais ou menos isso. A vacinação que a gente tem hoje, embora não seja diretamente direcionada a essa variante, ela protege as pessoas vacinadas contra a gravidade de casos. Diminui as hospitalizações e também a chance de a pessoa contaminada morrer em virtude disso. É como se ela estivesse usando um colete.

Cebrasse News – Como lidar com a possível contaminação de colaboradores, inclusive nos locais de trabalho?
Francisco Balestrin – Hoje, quando a gente olha nos hospitais percebe que as pessoas que desenvolvem quadros mais graves normalmente são aquelas que têm um grande volume de comorbidades – problema pulmonar, cardíaco, neurológico, etc. Essas pessoas ficam um pouco mais suscetíveis, é a bala no braço. Mas existem algumas pessoas que insistem em não colocar o colete à prova de balas, que é a vacina, essas pessoas correm o risco de levar um tiro e morrer. E tem pessoas que estão sendo internadas mais graves que as outras. Como esse vírus é muito transmissível, quando as pessoas conseguem perceber isso, elas precisam, de alguma forma, não passar a doenças para outras pessoas. Por isso é importante, sim, que aquelas pessoas que de alguma forma pegaram o vírus, e isso acaba acontecendo cada vez mais, elas estejam afastadas do seu local de trabalho e da convivência, dentro das novas características: se elas não tiverem nenhuma sintomatologia. Como eu disse antes, esse vírus é altamente transmissível. Vou dar um exemplo na nossa área. Uma pessoa pode entrar em um hospital para fazer um procedimento de rotina, mas para admissão é necessário fazer o PCR (teste que detecta o coronavírus). Se o resultado for positivo, o paciente descobre que está com o vírus e você nem tinha percebido. Então, mesmo assim, essa pessoa tem que ser afastada, pois ela pode passar para outras em casa, no trabalho, no transporte público, nas portarias, shopping centers, nas lojas, onde ela for.

Cebrasse News – E sobre o afastamento?
Francisco Balestrin – Sem sintomatologia, em cinco dias – a partir do teste positivo; e se não aconteceu nada – a pessoa pode voltar ao trabalho e ao dia a dia. Se, no caso, apresentou pequenas sintomatologias, por exemplo, uma gripe ou resfriado, e isto continuar até o sétimo dia, caso esse sintoma desapareça, podem ser liberadas para o retorno em até dez dias. Mas o que acontece é que essas pessoas acabam tendo outras infecções secundárias, porque o vírus torna você imunologicamente menos protegido. Pode ser que em um momento como esse uma bactéria normal, que o indivíduo não seria suscetível em outro momento, se torna bronquite, uma traquebronquite e acaba tendo que usar antibiótico. Não por conta da Ômicron, mas em virtude da infecção secundária, que pode ser bacteriana.

Cebrasse News – Como está o cenário de testagem no Brasil?
Francisco Balestrin – Estamos com um processo de testagem pequeno se comparado a outros países. Muitas pessoas estão doentes, não sabem e acabam transmitindo para outras. Hoje, estima-se que 50% da população brasileira já está contaminada pelo vírus. É um índice muito alto. Por isso a vacinação é tão importante, é como vestir o colete à prova de balas. E com a vacinação de crianças, embora elas tenham menor sintomatologia, isso ajudará a refrear o avanço da contaminação, visto que elas são agentes transmissores. Existem vários estudos que apontam que a Ômicron é pelo menos 30 vezes mais transmissível que a Delta. Por outro lado, muitas pessoas que não tiveram contato com o vírus, agora foram contaminadas e somado esse grupo às que já estão vacinadas, amplia a imunidade natural. Por consequência, isso faz com que os números de infectados caia. Como nós começamos a ter pico basicamente entre o Natal e o ano novo, é de se esperar que esse ápice da variante Ômicron seja atingido, provavelmente, na primeira semana de fevereiro. Então, tem que se ter cuidado. Precisamos manter o protocolo sanitário adotado na Delta e na Gama: uso de máscaras, álcool em gel, distanciamento social e evitar aglomeração.

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