Artigo do presidente da FENEP foi originalmente publicado no Correio Braziliense
Por Eugênio Cunha*
Nos últimos dias, acompanhamos episódios que colocam em dúvida a verdadeira função da escola como lugar de formação e cuidado. Em curto espaço de tempo, surgiram situações conduzidas de maneira equivocada, que não traduzem a rotina das instituições de ensino. Pelo contrário, distorcem a percepção da sociedade, minam a relação de confiança com as famílias e dificultam o reconhecimento da escola como ambiente de proteção, aprendizado e desenvolvimento humano. Ainda mais grave: são episódios que invadem o cotidiano escolar sem justificativa, desviando a atenção daquilo que realmente importa — educar e preparar cidadãos.
Recentemente, uma instituição foi alvo de constrangimento a partir da forma como autoridades intervieram em sua rotina, gerando alarme desnecessário e desproporcional. Em outro momento, uma cobertura televisiva optou por explorar situações específicas com viés sensacionalista, desconsiderando a seriedade do trabalho pedagógico e o compromisso diário de milhares de educadores. Embora distintos, esses casos têm algo em comum: tratam a escola a partir de lentes equivocadas, que em nada traduzem sua realidade cotidiana.
A imensa maioria das quase 180 mil escolas do país se dedica integralmente a educar com qualidade, a cuidar da segurança de seus alunos e a estabelecer uma relação de confiança com as famílias. Quando episódios pontuais são tratados de forma distorcida ou recebem interferências externas sem propósito, o efeito é o enfraquecimento indevido da imagem da educação como um todo e talvez esse seja o ponto mais grave.
É preciso reafirmar que a escola é, antes de tudo, um espaço de segurança e confiança. Milhões de famílias brasileiras confiam diariamente a educação de seus filhos a profissionais comprometidos com o conhecimento, a formação cidadã e o desenvolvimento humano.Transformar o ambiente escolar em palco para ações punitivas ou espetáculos midiáticos não contribui para a sociedade — apenas afasta a educação de sua verdadeira missão.
Outro risco é o da captura ideológica. A escola não deve ser refém de disputas políticas ou partidárias que pouco dialogam com a prática pedagógica. O que deve orientar a educação são princípios: ética, responsabilidade, pluralidade de ideias, valorização do conhecimento e respeito ao papel das famílias. É isso que assegura que as crianças e os jovens se tornem críticos, preparados e conscientes de seus direitos e deveres.
A educação de qualidade só floresce em ambientes de confiança e diálogo. É preocupante que, em vez de fortalecer a escola, alguns agentes escolham reduzi-la a alvo de polêmicas. O país precisa de investimento, reconhecimento e colaboração conjunta para que as instituições de ensino sigam cumprindo sua missão de formar cidadãos.
Defendera escola é defender um dos pilares mais importantes da democracia por meio do exercício da educação plena. É preservar um espaço em que a confiança deve prevalecer sobre o medo, e em que princípios sólidos precisam sempre se sobrepor a sensacionalismos ou percepções equivocadas.
*Eugênio Cunha é presidente da Federação Nacional das Escolas Particulares (FENEP)
Fonte: https://www.fenep.org.br/a-escola-e-espaco-de-principios-nao-de-sensacionalismo-e-punicao/