Serviços seguram a lanterna da recuperação

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O ESTADO DE S.PAULO – 26 Novembro 2017
De janeiro a setembro, setor recuou 3,7%; a indústria cresceu 1,6% e o comércio, 1,3%
POR MÁRCIA DE CHIARA
A analista financeira Bárbara Tiemi Minomiya, de 29 anos, decidiu reduzir as despesas. “Vou me casar no ano que vem e estou procurando economizar onde posso”, diz. As idas ao cabeleireiro e a restaurantes estão mais espaçadas, as viagens ficaram para segundo plano e até o gasto com a conta de celular que ela também usa no trabalho entrou na lista de cortes.
No mês passado, Bárbara migrou de um plano de telefonia pelo qual pagava R$ 200, com menos capacidade de internet, mensagens e ligações, para outro com muito mais recursos e que sai pela metade do valor do plano antigo. “Mudei de plano por economia e para ter um relação melhor entre custo e benefício.”
A decisão da analista financeira e de outros brasileiros de frear as despesas com serviços aparece no desempenho do setor. No terceiro trimestre, o corte nos gastos com os serviços de telecomunicações feitos pelas famílias e empresas foi um dos principais responsáveis pelo declínio do desempenho do setor de serviços como um todo, aponta um estudo do Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial (Iedi). Também a redução na demanda por serviços administrativos terceirizados, como locação de equipamentos, veículos, limpeza e vigilância prestados principalmente a empresas, por exemplo, puxou para baixo os serviços. O estudo foi feito a partir de resultados de pesquisas do IBGE.
Comparado a outros setores, como comércio e indústria, o estudo mostra que os serviços como um todo estão na “lanterna” da recuperação da atividade. De janeiro a setembro, o volume de serviços acumulou queda de 3,7% ante o mesmo período de 2016. “O desempenho dos serviços está negativo num nível não muito diferente do que foi no ano passado até setembro”, observa o economista-chefe do Iedi, Rafael Cagnin. No mesmo período, o comércio e a indústria já colocaram a cabeça fora d’água, saíram do terreno negativo, diz. No ano, até setembro, a indústria cresceu 1,6% ante os mesmos meses de 2016 e o comércio avançou 1,3%.
 
“O setor de serviços demorou mais tempo para sentir a crise e também deve levar mais tempo para sair dela”, afirma Vitor Velho, economista da LCA Consultores. A sua análise é semelhante à de Cagnin, do Iedi, que aponta o fato de o setor de serviços ser intensivo no uso da mão de obra como um dos fatores que estão atrasando a retomada.
Cagnin lembra que a demanda por serviços está ligada à renda corrente da população que, por sua vez, depende do emprego, cuja melhora é recente. Já a maior oferta de crédito e o juro menor têm ajudado na retomada da atividade na indústria e no comércio.
“Quando olhamos as pesquisas mensais, o resultado que destoa mais é o indicador de serviços”, diz o diretor de macroeconomia do Ipea, José Ronaldo de Castro Souza Júnior. Ele formula duas hipóteses para explicar o fraco desempenho do setor. Uma delas é que a inflação dos serviços, apesar de ter recuado, está acima da inflação geral, o que segura a demanda. A outra é que muitos trocaram os serviços privados pelos serviços públicos. Embora a economia tenha começado a retomar, a volta para os serviços privados é lenta.