Como sobreviver ao restante da pandemia e à recessão

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Teremos ainda vários meses de pandemia e depois recessão. Veja algumas providências para salvar seu negócio

Para sobreviver ao restante da pandemia e a futura recessão, o empresário de bares e restaurantes, mesmo empresas de turismo, demais dos mais variados setores, fechadas pela quarentena, têm que apelar para uma lâmpada mágica ou têm que ter muita informação e energia para lidar com enxugamento de custos ou se possível algum faturamento com produtos ou serviços alternativos.

Se bem feita a lição de casa, o custo do estabelecimento pode ser reduzido a cerca de 15% da média de tempos normais, e então, com reservas financeiras, delivery, financiamentos, admitindo sócios, é possível suportar mais alguns meses, até o retorno a um mínimo de normalidade

A começar por examinar e ver como economizar em cada setor específico da atividade. Podemos citar como fonte de custos os prestadores de serviços, fornecedores (inclui concessionárias), bancos, governos (municipal, estadual, federal), locador, principalmente trabalhadores e encargos daí decorrentes.

Os trabalhadores são prioridades, não só por representarem cerca de 30% de despesas da atividade e por ser uma equipe já formada e necessária para voltar à ativa, como pelos aspectos humanos que envolve. Deve-se evitar demissões tanto quanto possível, e, felizmente, para pequenas empresas, tivemos as leis que permitiram suspensão de contratos de trabalho, redução de jornada e salário, férias coletivas, acordos individuais. Com a prorrogação dessa lei é possível eliminar o principal problema para a sobrevivência, mantendo o essencial da equipe. O custo cai de uns 30% para 2% ou 3%. Em última hipótese, inexistindo alternativa, deve-se admitir demissões, lembrando que os trabalhadores terão o seguro desemprego como salvação.

Outro custo terrível é do locador, que vai de 4% até 14%, conforme o prédio locado. Uma boa negociação pode reduzir isso à metade, e mais de 50% dos estabelecimentos conseguiram. Muitos outros, conseguiram no mínimo jogar lá para a frente 50% do aluguel que teriam que pagar hoje. O locador resistindo é possível apelar para ação judicial, que em 80% dos casos têm dado certo (ver cartilha sobre o assunto em sites da Abrasel).

Chegamos aos fornecedores. Mais de 90% deles estão renegociando pagamentos, e se não estamos funcionando, não estamos gastando com produtos. Se estamos, como no delivery, estamos adquirindo condições de pagar pelo que adquirimos.

Com prestadores de serviços em geral, podemos suspender ou rescindir contratos. No caso das concessionárias, temos que bater forte. Que as de energia, gás, água, cobrem apenas pelo que o estabelecimento gasta e não pela média. A Abrasel tem tentado ajudar, criticando e agora preparando ações coletivas para enfrentar os abusos. De qualquer forma, é possível reduzir bens as despesas nessa área.

Com bancos, muitas não precisam se preocupar, já que não conseguem mesmo financiamentos a juros reduzidos, apesar do marketing intensivo feito pelo governo federal. O problema é para as que conseguiram financiamento a juros elevados, que devem renegociar ou até tentar agir judicialmente se os bancos insistirem em taxas abusivas.

Chegamos aos governos, que cobram impostos e taxas. Muitos impostos, principalmente o SIMPLES, tiveram pagamentos adiados para meses que se espera, pós pandemia. Mas por alguns meses isso já está garantido.  Há as taxas, a principal é o IPTU, a maioria das prefeituras resistem em as cancelarem ou até reduzi-las. Aqui mais uma vez a Abrasel será necessária, para obter novos adiamentos no caso dos impostos e continuar a lutar por redução do IPTU.

Como se pode constatar, fazendo a lição de casa, pode-se reduzir substancialmente os custos do negócio e assim sobreviver, esperando por voltar a trabalhar regularmente em tempos de normalidade.

CAPITALIZAR E/OU FATURAR O QUE FOR POSSÍVEL

Na outra ponta pode-se capitalizar a empresa com recursos próprios ou com adesão de novos sócios, ou, voltando aos bancos, insistir em financiamentos, pois há linhas sendo aprovadas neste momento no Congresso, que estariam acessíveis. E nos bancos sempre existe dinheiro, para quem pode oferecer garantia.

E ainda é possível faturar com delivery, drive thru, rotisserie, produção de outros produtos para pronta entrega ou via delivery, que não sejam os pratos tradicionais, sendo que alguns deles podem ser vendidos até em supermercados.

Muito importante é divulgar também no entorno, fazendo com que se torne comum que clientes residentes ou trabalhadores das proximidades passem no negócio para levarem para casa tais produtos. Parte da equipe pode ser usada para entregar até quatro ou cinco quadras de distância.

Ora, se conseguirmos chegar a 20% do faturamento dos tempos de normalidade, podemos até estar empatando e assim sobreviver com mais tranquilidade.

O DESAFIO DA REABERTURA

Assim, reduzindo custos de um lado e faturando ou obtendo capital ou financiamento mínimo do outro, podemos suportar os próximos meses e ir se preparando para a normalidade.

É certo que mesmo a reabertura virá por etapas, gradualmente, priorizando a segurança e isso ninguém pode ser contra. Uma recidiva na pandemia seria desastre muito pior.

No início não será fácil obter faturamento significativo. Muitos empresários decidirão por esperar melhorar o clima, a confiança do mercado e da sociedade. Muitos conseguirão apenas o suficiente para pagar os custos dessa mesma reativação do negócio. Mas isso é um ganho, pois estamos voltando a trabalhar e agora no novo normal, treinando funcionários, repondo estoques, reconquistando clientes.  Haverá menos estabelecimentos concorrendo, mas também menos clientes. Muitos estarão sem recursos financeiros, com receito de perderem empregos, contas para pagar, outros ou todos temerosos de entrar em um estabelecimento onde há frequência de várias pessoas e trabalhadores.

Esperemos que a pandemia sirva de lição, que aprendamos mais sobre solidariedade, humanidade, distribuição de renda, serviços, educação, saúde, esperança, felicidade, alegria. A solidariedade tem que ser admitida no próprio mercado, em vez do frio “comprou pagou”. Só um compromisso de todos com todos poderá reerguer mais depressa a atividade econômica. Cada qual tem que ver no concorrente, no fornecedor, no cliente, o ser humano, o brasileiro que está como todos tentando sobreviver e como parte fundamental na construção do setor e do país.

Novos tempos exigem novas energias, entusiasmo, dedicação, persistência. As dificuldades devem ser vencidas, e, como dizem os chineses, a jornada das mil milhas começa com o primeiro passo.

Por Percival Maricato, advogado, empresário, escritor, palestrante, é presidente da ABRASEL em São Paulo

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