Cebrasse leva questões do setor ao médico Jorge Kalil. Webinar foi iniciativa do Sindhosp, entidade associada à Central
Com o apoio da Cebrasse, o SindHosp realizou, em 18 de março, o Webinar “Conheça, na prática, como estão as vacinas para Covid-19”. O evento teve como convidado o professor titular de Imunologia da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo e diretor do Laboratório de Imunologia do Instituto do Coração, Jorge Kalil, e como moderadores o presidente do SindHosp, Francisco Balestrin, e o presidente da Cebrasse, João Batista Diniz Jr. O Webinar contou com o apoio da Cebrasse e da MXM Sistemas.
Jorge Kalil mostrou as vacinas disponíveis no mundo contra a Covid-19, o funcionamento delas no sistema imunológico e a eficácia de cada uma. Indicadores de Israel, país que já vacinou cerca de 40% de sua população, mostra que a vacinação reduziu o número de casos graves e internações. O médico também apontou que só será possível superar o atual cenário aplicando as regras de distanciamento social, usando máscaras enquanto a população não é amplamente vacinada.
A preocupação com as novas variantes do vírus foi manifestada na live. “Fomos tomados por esta variante, muito mais infecciosa, com maior morbidade e letalidade, o que faz o que a internação seja mais longa”, descreveu. A dificuldade do Ministério da Saúde conseguir imunizar toda a população em razão da escassez de vacinas é outro problema.
“O Brasil começou muito mal a sua vacinação, quando comparado com o mundo, mas tem vacinado bem, em um ritmo bom e acelerado. Para isso precisamos de vacina. Não temos vacina suficiente. Faltam no mundo, mas faltam especialmente no Brasil. A Europa, os Estados Unidos, o Canadá têm bastante vacina. O Canadá comprou seis vezes o número de vacinas necessárias para vacinar a sua população. A vacina é vida. Sempre foi, mas agora ainda mais”, disse.
O médico reforçou a necessidade de a população manter o distanciamento social, sobretudo em um contexto no qual as variantes do novo coronavírus têm sido detectadas em diversas partes do país. A esperança na vacina desenvolvida pelo grupo que o médico coordena (que está desenvolvendo um spray nasal 100% nacional) é que ela seja adaptável às diferentes variantes do vírus.
O presidente da Cebrasse, João Diniz, apresentou a entidade ao médico e falou sobre o alcance da representação. “Temos 8 milhões de empregados sob o guarda-chuva Brasil, representando boa parte do setor de serviços que é o que mais emprega e é a locomotiva da economia junto com o setor de agricultura”.
Diniz apresentou um questionamento da Abrasel sobre a importância da vacina para o retorno da normalidade e outra da Abralimp sobre a vacinação de terceirizados que prestam serviços essenciais, a exemplos dos que atuam em hospitais e cemitérios, para não propalar ainda mais a doença. E, por fim, o presidente da Cebrasse perguntou se além da FMUSP existem outras iniciativas no Brasil.
“Sobre vacinação e retorno da normalidade: na vacinação, o que se vê é que o vírus diminui muito a circulação, com muito menos gente doente. Isso dá uma tranqüilidade para sociedade. O que os israelenses fizeram? Quando o indivíduo toma as duas doses recebe um código e ele pode começar freqüentar bar e restaurantes, salão de ginástica e tudo isso. Mas preciso frisar: essas vacinas têm uma eficácia muito alta, a nossa ainda precisamos acompanhar, na prática, a efetividade, que é aquilo que acontece no uso da vacina. Se isso acontecer, iremos retomar atividades de bares e restaurantes que são importantes não só para alimentação, mas também para o lazer, coisa da qual estamos muito carentes. Com relação a prioridade que deveríamos ter com os indivíduos que estão mais expostos, sem dúvida os profissionais de saúde são os mais expostos, agora, eu acho que o pessoal de limpeza e segurança de hospital tinha que ser vacinado” respondeu o Jorge Kalil.
Segundo ele, no estudo feito no HC de São Paulo, constatou-se que apenas 3% dos médicos que lidam diretamente com os infectados se contaminam. As enfermeiras, que lidam ainda mais diretamente e acompanham o dia a dia, têm até 14% de infecção, mas são dois grupos que têm muita informação e sabem lidar com a doença. Já o pessoal da limpeza, 45% são infectados, bem como o pessoal da segurança, também 45%.
“E eles não estão lidando tão diretamente com a doença. Mas usam o transporte coletivo super lotados e podem terminar se contaminando. Pode ser do local de trabalho insalubre, porque o hospital tem muita possibilidade, mas também tem o transporte. Então, eu concordo com você que a vida do brasileiro, aqueles que estão mais expostos, e vacinar. E nós temos muita gente que é exposta. O que temos que fazer é usar a ciência e a inteligência, não pensar no voto e no que é melhor para a população brasileira”, afirmou.
Produção de vacinas nacionais
Sobre as vacinas, o especialista falou que existem diversos testes clínicos, inclusive o coordenado por ele. “Além das que já estão sendo produzidas, creio que outras mais deverão estar disponíveis até o final do ano”, avaliou Kalil. No último dia 17, a Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) entregou ao Programa Nacional de Imunizações (PNI) um lote de 500 mil doses da vacina Oxford/AstraZeneca contra a Covid-19, fabricadas em Bio-Manguinhos, no Rio de Janeiro. O lote foi produzido a partir do Ingrediente Farmacêutico Ativo (IFA) importado. Outras 580 mil doses foram disponibilizadas na sexta-feira (19) totalizando um lote com 1,080 milhão de doses de vacina produzidas no Brasil.
Este mês, segundo a Fiocruz, serão entregues 3,8 milhões de doses da vacina. Uma segunda linha de produção entrou em operação desde o dia 12, o que vai permitir o aumento da capacidade produtiva de Bio-Manguinhos/Fiocruz. A expectativa é chegar até o fim do mês com uma produção de cerca de um milhão de doses por dia.
Já o Instituto Butantan fez na última sexta-feira, dia 19, a terceira entrega em uma semana de vacinas. O lote enviado ao Ministério da Saúde para ser usado no Programa Nacional de Imunizações tem mais 2 milhões de doses de CoronaVac, a vacina foi desenvolvida em parceria com o laboratório chinês Sinovac. Ao longo da semana, já haviam sido enviados outros 5,3 milhões de doses do imunizante. Até o momento, o Butantan já disponibilizou 24,6 milhões de doses da vacina para serem aplicadas em todo o país.