Setor vê piora nas condições de financiamento
Empresas do setor de serviços, já duramente afetadas pelo fechamento das atividades após a piora da pandemia, contam com a prorrogação da carência de linhas de apoio ao setor e a reedição da medida de redução de salários para evitar nova onda de encerramento dos negócios, como em 2020. Mas as condições de financiamento dessas linhas do governo devem piorar, encarecendo a dívida.
No ano passado, 180 mil empregados formais de bares e restaurantes foram demitidos após a pandemia. Uma em cada três empresas fechou o negócio ou ainda não voltou a operar e pode encerrar de forma definitiva, diz associação regional do setor. As empresas ainda lidam com negociações de reajustes de contrato de locação de até 28% e de pagamento dos impostos de início de ano.
Essa pressão aumenta agora porque a carência para pagamento das linhas do Programa Nacional de Apoio às Microempresas e Empresas de Pequeno Porte (Pronampe) acaba neste mês e a receita de vendas recuou bruscamente com a volta do “lockdown” em certos estados.
Houve extensão na carência por mais três meses, como anunciado pelo governo no começo do mês, terminando o prazo, portanto, em junho. Só que na visão de empresários e entidades, ainda é um período curto. Por conta desse cenário, já está em discussão no Senado a extensão por mais três meses.
“A ampliação da carência [para setembro] já está sendo trazida num projeto de lei da senadora Katia Abreu (PP-TO), e a expectativa é de aprovação. Esperamos que isso seja votado nos próximos dias, para então o assunto voltar à Câmara. O problema é que, enquanto isso, o setor está parado”, diz Paulo Solmucci, presidente da Abrasel, associação do setor.
Também há uma discussão para liberar uma nova linha de recursos no Pronampe, de R$ 5,8 bilhões. A mudança beneficiaria todos os segmentos, inclusive serviços. Desse total, R$ 2 bilhões é uma “sobra” do programa de 2020 e R$ 3,8 bilhões são novos recursos, já negociados com o governo, diz a entidade.
O programa foi criado em maio de 2020 como forma de dar liquidez aos pequenos negócios, e o setor foi um dos que mais acessou as linhas nos bancos, segundo o Ministério da Economia. Ao todo, nas três fases do programa, foram emprestados R$ 37,5 bilhões a 517 mil empresários de diferentes segmentos, por meio de 18 bancos habilitados.
O Pronampe permitiu ao empresário obter até 30% do faturamento em empréstimo, com pagamento em 36 vezes e juros anuais de até 1,25% mais taxa Selic. Mas a taxa e os prazos devem subir na reedição do programa.
“Nas novas linhas, as condições de financiamento pioraram, com juros de até 6% mais Selic. Não são boas, mas são linhas sem garantias, então acho que todo mundo tem que ceder um pouco”, disse Fernando Blower, diretor-executivo da Associação Nacional dos Restaurantes (ANR). O prazo, de 36 meses, deve ir a 46 meses, caso o projeto de lei seja aprovado.
Pesquisas mostram situação crítica dos bares e restaurantes, principalmente em São Paulo. A Abrasel de São Paulo calcula que apenas em 2026 o setor chegará ao mesmo patamar de faturamento anterior à covid. “Serão cinco anos para voltarmos àquele nível”, diz Percival Maricato, presidente da Abrasel-SP. Com base em informações de associados, a entidade calcula que 30% das empresas tenham fechado até o momento no Estado.
Segundo um empresário do setor, com 200 restaurantes e seis marcas no país, “a praça de São Paulo é uma das mais fracas, por conta do efeito do home office”.
Levantamento da Abrasel nacional, feito em fevereiro, mostra que 72% dos estabelecimentos em São Paulo operavam no prejuízo naquele momento, versus 60% no resto do país.
Fonte: Valor Econômico