‘Vamos fazer juntos’ reuniu entidades, voluntários e empresas. No dia 1º de agosto, eles conseguiram entregar doações a cerca de mil pessoas em uma periferia de São Paulo
Há uma fábula, dizem que originária dos índios Cherokees dos Estados Unidos, em que um ancião conversa com o neto e fala que dentro dele existem dois lobos que vivem lutando. Um é mau (egoísta, raivoso, ressentido, triste, ganancioso, mentiroso, orgulhoso, enfim, ruim); e a outra fera é boa (alegre, esperançosa, empática, verdadeira, bondosa, generosa, humilde, compassiva, amorosa, leal e cheia de fé). O neto questiona o avô sobre qual dos dois lobos vence a luta. O sábio indígena responde: “Aquele que eu alimento”.
Em tempos de pandemia e retração na economia, as pessoas, em geral, sentem-se inseguras e preocupadas. E os extratos mais carentes da população ficam ainda mais vulneráveis. Neste cenário, parece que alimentar o lobo mau, dentro de si, é a única saída. Mas um grupo de empresários, entidades e voluntários de São Paulo mostraram que não. Há quase dois anos, um grupo, entre elas a Associação dos Controladores de Vetores e Pragas (Aprag) e o Sindicato das Empresas de Controle de Vetores e Pragas (Sindprag), resolveu criar um trabalho solidário para ajudar quem mais precisa.
A iniciativa nasceu da união de um grupo de amigos, no Natal de 2018. Em 2020, nos primeiros meses da crise do Covid-19, houve o cadastramento de um grande número de famílias e de voluntários. Mas com o decorrer da crise, vários membros da equipe que ajudava perderam seus empregos ou renda. Outro desafio. Em vez de desistir, o grupo mudou a estratégia, arrecadar o máximo de doações possíveis nos últimos meses e realizar a entrega no momento que julgou mais adequado, no caso, no último dia 1º de agosto. E houve um cuidado na escolha do destino da ajuda. Para saber mais, leia a entrevista com o presidente da Aprag, Carlos Watanabe, e inspire-se!
Cebrasse News – Qual o nome da campanha que vocês idealizaram e quando foi pensada e executada?
Carlos Watanabe – “Vamos fazer juntos” foi criada a partir da união de um grupo de amigos que convidou a Aprag e o Sindprag para fazer junto. O grupo se uniu, pela primeira vez, no Natal de 2018, quando entregamos kits de higiene pessoal a moradores de rua. Em 2019 a campanha foi repetida e foi quando a Aprag e o Sindgrag através de seus presidentes e diretores fizeram, como entidade, a primeira doação ao grupo. Com o Covid-19, a necessidade das pessoas menos favorecidas passou ser cada vez maior, e o “Vamos fazer Juntos” iniciou campanhas mensais para atender moradores de rua e famílias de comunidades carentes que não possuem a mesma visibilidade que têm comunidades como Heliópolis e Paraisópolis. A escolha foi atender em parceria com a Cufa Pedreira, as comunidades da Estrada dos Alvarengas. Sabendo das ações do grupo, a Aprag, juntamente com o Sindprag, uniu-se a Campanha de Agosto, colaborando na compra de cestas básicas de alimentos, cestas básicas de higiene e cartelas de ovos.
Cebrasse News – E qual o objetivo dessas ações?
Carlos Watanabe – Este é um momento no qual muitas pessoas e famílias estão passando por sérias dificuldades, mas acredite, existem aqueles cujas dificuldades são muito maiores. São as pessoas que ficam no fundão das comunidades, são as pessoas que moram em buracos e becos, são as pessoas que moram em localidades que não possuem a mesma visibilidade e apoio que recebem comunidades “mais famosas”, como Heliópolis e Paraisópolis. O grande objetivo é chegar aonde a ajuda não está chegando, é atender aquele que não está no campo de visão das alamedas e avenidas. É atender os que não estão na mídia e estão em situação de alto risco físico, mental e emocional.
Cebrasse News – Vocês realizaram uma ação com participação em ‘cursos. O senhor poderia nos descrever foi viabilizada esta estratégia? Quantas empresas participaram?
Carlos Watanabe – A Aprag desenvolveu e aplicou o Curso de Sanitização, com o propósito de levar informação ao nosso setor e, simultaneamente, realizar uma doação solidária visando atender pessoas com necessidades e forte grau de dificuldade neste momento difícil que estamos atravessando. Nesta primeira ação, além do Grupo Vamos Fazer Juntos, do nosso setor, dos presidentes e diretores da Aprag e do Sindprag, tivemos o apoio de mais três empresas de setores diferenciados.
Cebrasse News – O que foi arrecadado?
Carlos Watanabe – Conseguimos montar 200 cestas de alimentos, 200 cestas-kit de higiene pessoal e doméstico; 200 cartelas de ovos com 30 unidades cada (porque vimos a necessidade de doar pelo menos uma fonte de proteína), roupas, sapatos e máscaras.
Cebrasse News – E quando ocorreu a distribuição de doações da Campanha de Agosto?
Carlos Watanabe – A entrega ocorreu no último dia 1º, atendendo aproximadamente mil pessoas (200 famílias), contando com a presença a minha presença e a do Antonio Marco França Oliveira, presidente do Sindprag.
Cebrasse News – Qual a importância de as empresas serem solidárias e protagonistas no atual cenário?
Carlos Watanabe – Em momentos como este atual, é muito comum grandes mobilizações da sociedade e das instâncias governamentais com ações e programas para suprir o primeiro impacto. Com o passar do tempo, as pessoas se acostumam com a sua dor e também com a dor do outro e, naturalmente, vão cessando as ajudas. Os programas e ações governamentais também vão cessando. E os mais necessitados vão, novamente, caindo no esquecimento. E é exatamente neste momento que os grupos de ação social tornam-se imprescindíveis. É exatamente neste momento que a participação das empresas, como protagonista, faz toda a diferença.
Felizmente, existem muitos grupos de amigos que se uniram com este propósito e juntos tem realizado muitas ações e doações. No entanto, são pessoas físicas que, para cumprir as metas estabelecidas, realizam um difícil trabalho nas arrecadações. Quando as empresas se unem a grupos e causas solidárias como neste caso, elas possibilitam duplicar, triplicar a quantidade de pessoas atendidas em cada ação. Se todas as empresas, dentro da sua realidade, se colocassem como protagonistas em cenários como este que estamos vivendo, passaríamos por este momento com menos dores e menos necessidades.
Entregar uma cesta básica pode até ser visto como enxugar gelo, já que quando os ingredientes acabarem a fome voltará, mas uma coisa podemos com certeza afirmar: a chegada de comida na mesa faz a criança parar de chorar de fome, faz a criança conseguir dormir, faz os pais pararem de engolir o choro de dor quando olham para seus filhos com armário e geladeira vazios, permite que os pais possam, também, se alimentar, já que por um tempo tem para todos. Traz um fôlego e melhora o raciocínio, para que os chefes de família possam procurar alternativas de como passar melhor pela situação atual.
Nós, enquanto pessoas jurídicas, podemos fazer muita diferença em nosso país. Podemos ser mais que empregadores e pagadores de impostos. Podemos ‘Fazer Juntos’ para construir uma sociedade mais humana e fraterna. Para construir um futuro melhor para nossos jovens para que quando ele se depare com esta realidade, saiba que ali existe um ser humano tão importante quanto ele. Criamos nossos filhos em diferentes comunidades e realidades, mas um dia todos se encontram, nem que seja pelos faróis das nossas alamedas e avenidas. Então, pense nisto: vamos juntos construir um futuro melhor. Vamos fazer juntos!